domingo, 24 de abril de 2011

Capítulos

I - Percepção Visual

A luz é mais do que apenas a causa física do que vemos. Ela representa para o homem o fator máximo de sua existência. Com ela observamos qualquer definição de forma, cor, espaço ou movimento.
Dessa forma, a visão representa uma das maiores dádivas da natureza. Os olhos e a luz se fundem na formação de todo o processo visual.
Modesto Farina esclarece o modo científico dos mecanismos de funcionamento do aparelho visual: “Oticamente o funcionamento do olho se assemelha ao de uma câmera fotográfica, que por sua vez possui um sistema de lentes (córnea e cristalino) um sistema de abertura variável (Iris) e filme (retina). Contudo, na realidade, há todo um processo psíquico envolvido no funcionamento do aparelho ótico humano.
A imagem que é impressa na retina do olho sofre todo um processo de interpretação ao atingir o cérebro, o que lhe confere uma complexidade não existente na máquina.
  • Farina salienta que para o ser humano ver o olho em si não completa o processo visual, pois a retina só transmite signos ao cérebro, sendo este incumbido de decifrá-los.
A transformação de uma imagem qualquer do mundo exterior numa percepção começa realmente na retina, mas é no cérebro que ela vai atingir uma impressionante magnitude. Farina ainda acrescenta “A imagem formada na retina vai ter significação depois de interpretada pelo cérebro, a imagem toma significado ao entrar em contato com coisas antes vistas e arquivadas na memória”.
Quando nossa retina reage a determinados estímulos, agrupando-os de modo a formar uma imagem incorreta, o resultado é uma ilusão ambígua. Um exemplo prático desse tipo de ambigüidade é provocado pelo espaço em branco entre as letras, que assume, muitas vezes, um aspecto formal tão importante quanto o próprio desenho das letras, em preto.
O fenômeno da ilusão pode ser originário das imperfeições óticas ou das interpretações intelectuais.
A percepção não é um processo fotográfico. Ao contrário, é uma operação que consiste em reunir e ajustar as informações visuais e comprá-las com o vasto mosaico de nossas imagens mentais. A capacidade do olho e da mente humana de reunir e ajustar elementos e de entender seu significado constitui a base do design e proporciona o principio que torna possível o layout de uma página impressa.
Hurlbut defende a idéia de que a visão não é um processo mecânico, como a lente de uma câmera fotográfica para ele é o contrário e afirma: “É um processo que mais se assemelha ao funcionamento de um computador, com os nossos olhos reunindo pedaços e partes dos dados observados, transmitindo-os assim ao cérebro, onde todo esse mosaico é classificado e reestruturado, resultado então em objetos e imagens. Essas imagens podem ser agradáveis ou enfadonhas; podem ficar na memória ou facilmente esquecidas; podem ser ainda mal interpretadas ou transformadas em quaisquer daquelas ambigüidades a que chamamos ilusão. Tudo o que acontece até essa etapa do processo pode ser decisivo para estabelecer a qualidade gráfica do nosso design. Seria um grande erro considerar que, uma vez conquistada a atenção do leitor, o exercício chegou ao fim. A não ser que um estímulo visual produza uma reação – emocional ou intelectual – não se pode dizer que tenha havido uma efetiva comunicação. O grau de reação do layout ser intensificado ou diminuído, de acordo com a forma, e , enfim, o estilo de sua apresentação.




II - O fenômeno estético na Comunicação Visual

Para o artista a percepção é um dado fundamental. Onde termina o seu trabalho e começa o do observador, em cuja percepção o objeto estético vai se completar. O sistema sensorial orienta o individuo em sua relação com o meio ambiente e cumpre um papel diverso na percepção estética: deve dialogar com os objetos significativos e, para desempenhar essa função, precisa ser adestrado.
A experiência estética é entendida como uma resposta a estímulos, aos elaborados pelo homem, aos naturais e independente da existência de um objeto intencionalmente artístico.
Em uma obra de arte, são observados uma série de significados, tais como sua condição física e intelectual, além da própria mensagem contida no objeto. O trabalho final do artista converte-se em tema para uma resposta por parte do observador. Nesse sentido, a arte visual pode ser considerada uma linguagem. Para Celso Kelly existem três funções na arte: a criativa, que seria o impulso da exteriorização do artista; a lúdica, um processo de recriação. E a comunicativa, decorrente da condição de que a arte também é linguagem.
Como em outros códigos a linguagem artística possui um emissor, que é a fonte da comunicação (o artista plástico, o diagramador etc.); um meio para transmitir a informação originada da fonte (o jornal, revista, livro, etc.) e um receptor (o observador ou leitor). Este deve reconhecer e decifrar os signos para chegar à compreensão.
A experiência estética resulta da ação recíproca entre o objeto artístico e o observador. No jornalismo impresso, o texto transmite a informação semântica através dos seus signos compreensíveis, mas ao mesmo tempo produz uma informação visual de reforço estético através dos símbolos gráficos que atuam na sensibilidade do receptor.
Tudo aquilo que se pode captar através da visão constrói a comunicação visual. Um cartaz, um edifício, um jornal, uma flor, isto é, uma série de elementos visuais, inseridos numa passagem onde o fenômeno espaço – tempo completa essa significação. Ela se desenvolve num processo de comunicação onde a mensagem é intencional e atende a fundamentos teóricos, culturais e operacionais.
  • Numa comunicação visual a mensagem pode ser interpretada livremente pelo receptor.
  • Numa comunicação intencional o receptor deve captar a mensagem no exato significado que lhe atribui o emissor.
Para que isso ocorra sistematicamente é necessário ter em conta o processo de produção da comunicação visual.
Todo processo de comunicação implica um processo de significação, onde o sinal é uma forma significante que o destinatário deverá preencher com significados.
Sinais são emitidos por um emissor que, baseando sua mensagem em códigos e léxicos, transforma a mensagem significante (enviada pelo emissor) em mensagem significada. Neste tipo de esquema, o papel do código é predominante.
  • Umberto Eco define-o como “uma estrutura elaborada sob a forma de um modelo, que é postulada como regra subjacente a uma série de mensagens concretas e individuais a ele adequadas, e que resultam comunicativas somente com referencia ao código”.
O processo de comunicação não termina quando a mensagem codificada pelo emissor é decodificada pelo receptor. Todo o processo de decodificação é bastante marcado pela circunstância que o envolve.
A própria circunstância é capaz de provocar mudanças na escolha do código, alternando não só o sentido como a função e a quantidade de informações da mensagem.
Assim Umberto Eco refere-se à retórica como um enorme depósito de soluções codificadas e ainda acrescenta “como base no sistema retórico e no universo ideológico, o emissor e o destinatário codificam respectivamente a mensagem visual segundo códigos e léxicos visuais”.
Para Abraham Moles toda mensagem entre comunicadores humanos se apresenta de fato ao analista como a super posição de mensagens distintas:
Semântica – integralmente traduzível, não importa qual sistema lingüístico.
Estética ou Conotativa - baseada num conjunto de elementos de percepção enumeráveis e armazenáveis pelo observador.
Para Celso Kelly a arte gráfica começa pela diagramação; desdobra-se na escolha dos tipos; complementa-se na confecção das manchetes. Estabelecem-se relações do gráfico com o assunto. Segundo ele as ilustrações aquecem o texto; dão visualidade pronta, antes da leitura. Fotos, caricaturas, anúncios, enxertam-se em meio aos textos, quebram-lhe a monotonia, imprimem movimento ao todo. Eis o grande arranjo estético, a orquestração gráfica do jornalismo. As artes gráficas e plásticas se põem a serviço de atração e sugestão, em complemento da arte da palavra.




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